Ensaio sobre a administração do tempo- Vitória da Conquista-dezembro 2024
Por Davi Amancio
Se tivéssemos que definir a Bíblia Sagrada dos cristãos em uma frase enquanto fonte literária seria: Antiga, porém atual e necessária. Dentre os livros poéticos por exemplo, temos o livro dos salmos, o termo hebraico para “salmos” é mizmor, que significa, “cantar” ou “tocar instrumento musical”. Os livros poéticos dessa forma são cinco, e estão ordenados dessa forma na tradução de João Ferreira de Almeida, como nas demais traduções que circulam no Brasil, e são eles: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.
Embora sejam apenas identificados como, salmos sem a necessidade de números ou capítulos por se tratar de poesia, para fins de organização aparecem numerados. Quanto a classificação temos salmos que eram destinados a adoração, lamento, romagem, louvor, imprecatórios, sabedoria, instrução, para o cantor mor, ou chefe, além dos salmos de ações de graças dentre outros.
Assim, temos um total de 150 salmos, sendo a maior parte deles atribuídos a Davi, Salomão seu filho, outros a Asafe, além dos filhos de Corá, Hemã, Etã e alguns que são de autoria de Moisés. Embora exista muita beleza nos salmos, nesse texto me ocupei em refletir sobre o 90, que é uma oração de Moisés. Este salmo, está entre os que tem uma excepcional importância por sua teologia, e por tratar não apenas da fugacidade da vida humana, mas da economia do tempo. Esse salmo trata basicamente sobre os limites de tempo da vida humana, imposto pelo próprio Deus. O tempo relativamente efêmero da vida humana em contraste com a eternidade de Deus.
No versículo, 12 temos algo importante sobre a economia do tempo. “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Salmos 90. 12). Partindo desse fragmento importante sobre a administração do tempo pretendo tecer algumas considerações que apresento a seguir. O tempo é tão importante que de acordo com o filósofo, Aurélio Agostinho (354-430 d.C.), se constitui e uma aporia, ou seja, um problema filosófico sem solução, a ponto de ele afirmar: “Que é, pois, o tempo? Se
ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei”. Mas isso não impede o autor de deixar sua contribuição valiosa sobre o tema.
O livro confissões, além trazer um relato da experiência do filósofo a respeito do seu encontro com Deus, nos legando assim um tratado teológico, encontramos também excelentes contribuições sobre a memória, e sobre o tempo. De acordo com o autor, nada existe na criação fora do tempo. Dessa forma, podemos dizer que o tempo é fundamental para confirmar a ontologia da criação. Assim, encontramos esse tempo humano quando lemos nessa oração a narrativa de Moisés sobre Deus, e sobre a nossa condição humana.
No senso comum, se diz que tempo é dinheiro, primeiro, contar os dias partindo da perspectiva da economia do tempo, significa valorizar algo que ao contrário do que se encontra no adágio popular não é dinheiro. Tempo em muito excede ao dinheiro, se considerarmos que tempo é vida, não apenas a nossa, mas de todos que amamos. Partindo desta perspectiva, a economia do tempo diz respeito a forma como administramos nosso tempo ou como a vida acontece através dele, e como o nosso tempo de vida útil pode ser bem administrado, a fim de que não se torne inútil.
Para além disso temos outro aspecto importante sobre a economia do tempo, temos sido pródigos em relação ao tempo, esbanjamos tempo como se tivéssemos uma reserva interminável, da mesma forma que fazemos com a água que é um bem perecível. Pensar, portanto, sobre a economia do tempo, em uma época que o tempo tem sido tão capitalizado, expropriado e desperdiçado, me parece ser relevante. Por outro lado, refletir sobre a importância do tempo dialogando com a teologia, filosofia e a psicologia se torna imprescindível para a compreensão da condição humana.
Partindo dessas considerações, contar os dias de tal maneira que alcancemos coração sábio, significa refletir sobre viver tempo de qualidade não apenas com o outro, mas com aquele que um dia se fez carne e habitou entre nós, e assim pedir, fica conosco, antes que ele se vá e fique apenas a saudade daquele que esteve entre nós.
Finalmente, que a nossa memória nos faça refletir sobre a nossa passageira e frágil condição humana em contraste com a soberania de Deus e a sua eternidade, a fim de que refletindo sobre isso, não apenas a nossa forma de administrar o tempo melhore, mas nos amemos uns aos outros considerando que as guerras podem tornar a vida ainda mais curta.
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