Considerações sobre a medicalização como forma de desligar um sintoma na interface com a dependência entre paciente e analista
Por Davi Amancio de Souza-Crp. 19/155-Vitória da Conquista. Fevereiro-2025.
Ao revisitarmos a história, é possível notar que o sofrimento humano está presente desde os primórdios da humanidade, inferimos assim que seja de qualquer ordem, ou por quais motivos ocorra, ele é inerente a condição humana. Sem falar do caráter pedagógico que ele pode assumir, sendo que esse tema será objeto de discussão no próximo texto intitulado, o caráter pedagógico do sofrimento na vida humana.
Mas, se no contexto da ascensão do modo de produção da indústria na Europa tivemos um poder que se apropriava dos corpos para o trabalho a fim de faze-lo produzir, no século XIX, surge um novo tipo de poder que tinha um caráter disciplinar, esse foi classificado por Michel Foucault, como “bio poder”.
É válido lembrar que existem medicamentos que são chamados “tarja preta”, em virtude do seu potencial risco e a necessidade de controle. Assim, cabe uma indagação, será que ao se prescrever apressadamente esses medicamentos não estaríamos no fundo tentando manter os corpos bem disciplinados, e os pacientes por sua vez, fazendo uso de um ansiolítico, ou antidepressivo não estariam procurando uma solução rápida ao invés de tratar o sintoma investigando as causas que permeiam esse sofrimento?
Entretanto, tempo é um luxo que essa geração parece não ter tempo, especialmente para as coisas mais importantes da vida. Desta forma, prosseguimos imersos nesse imediatismo, ora nessa alienação de si, ora inflacionando os afetos e por conseguinte recorrendo aos medicamentos como forma de desligar um sofrimento.
Isso serve bem aos interesses capitalistas das drogarias. Por outro lado, capital não é uma pessoa ou um ente, é antes tudo aquilo que atribuímos valor, e no espectro da teoria social do capital evoluímos atualmente para pensar que temos diversos tipos de capitalismos, mas imaginemos isso por meio da metáfora de um monstro com vários tentáculos, essa fera seria o capital, sendo esses tentáculos os vários tipos de capitalismos responsáveis por nutri a fera a partir dos nossos desejos para os quais atribuímos valor.
Assim temos o capitalismo da fé, tão antigo que esteve presente no comércio instalado em frente ao templo em Jerusalém nos dias de Jesus. Capitalismo de dados, considerando que as informações sobre os indivíduos de uma sociedade é uma ferramenta
valiosa. Capitalismo da tecnologia, em alta ultimamente com a ascensão da inteligência artificial, IA, e ultimamente o capitalismo do sofrimento, a obtenção de um lucro a partir do sofrimento do outro que por sua vez cria uma relação de dependência com o analista.
Embora seja fato, que um ser humano pode lucrar com o infortúnio do outro, recentemente tenho lançado o olhar como pesquisador de forma especifica sobre dois pontos que considero importantes nesse contexto, o uso de medicamentos de maneira inconsequente como forma de desligar um sofrimento ao invés de tratar considerando aquilo que causa. Para além disso, ao ouvir ultimamente algumas narrativas de pessoas que dizem estar já há três anos em um atendimento sequenciado que parece não ter fim, culminando por criar uma relação de dependência entre paciente e analista, estive me perguntando, será que de alguma forma esse sofrimento não estaria sendo capitalizado?
Assim, algumas perguntas sobre esses fenômenos são necessárias, a quem interessa esse excesso de medicalização que tem ocorrido, especialmente nos últimos anos? a hipótese é que isso tem servido bem aos interesses da indústria farmacêutica, e na esteira desse processo as redes de farmácias que a cada dia se multiplicam, certamente lucrando a partir do sofrimento humano.
Por outro lado, na literatura psicanalítica, o tripé de um atendimento deveria ser composto de recordar, repetir e elaborar, mas se um paciente apenas recorda e repete, e não elabora, que exercício da psicologia é esse que não promove a autonomia dos sujeitos por meio do desvencilhar dessa relação de dependência? Esses são questionamentos inconvenientes, porém necessários, se consideramos que em qualquer contexto do tratamento da saúde mental, é imprescindível propiciar, autonomia e assegurar a liberdade para que as pessoas possam fazer suas escolhas.
Finalmente, é possível afirmar que essa cultura da medicalização como forma de deligar um sofrimento, pode ao invés disso agravar o sofrimento se o sujeito já tiver perdido a liberdade para escolher, e para além disso a médio ou longo prazo determinado medicamentos podem provocar demência conforme já foi comprovado cientificamente.
Finalmente, inferimos que, aqueles/as que se tornam dependentes de um profissional em psicologia, ou psiquiatria para equacionar suas demandas, e por essa razão o tratamento parece não ter fim, consideremos a possibilidade de que ambos não tenham perdido apenas o poder de decisão, mas precisem de atendimento para lidar com questões mal resolvidas.
CAPITALISMO DO SOFRIMENTO: considerações sobre a medicalização como forma de desligar um sintoma na interface com a dependência entre paciente e analista
Davi Amancio de Souza-Crp. 19/155-Vitória da Conquista. Fevereiro-2025.
Ao revisitarmos a história, é possível notar que o sofrimento humano está presente desde os primórdios da humanidade, inferimos assim que seja de qualquer ordem, ou por quais motivos ocorra, ele é inerente a condição humana. Sem falar do caráter pedagógico que ele pode assumir, sendo que esse tema será objeto de discussão no próximo texto intitulado, o caráter pedagógico do sofrimento na vida humana.
Mas, se no contexto da ascensão do modo de produção da indústria na Europa tivemos um poder que se apropriava dos corpos para o trabalho a fim de faze-lo produzir, no século XIX, surge um novo tipo de poder que tinha um caráter disciplinar, esse foi classificado por Michel Foucault, como “bio poder”.
É válido lembrar que existem medicamentos que são chamados “tarja preta”, em virtude do seu potencial risco e a necessidade de controle. Assim, cabe uma indagação, será que ao se prescrever apressadamente esses medicamentos não estaríamos no fundo tentando manter os corpos bem disciplinados, e os pacientes por sua vez, fazendo uso de um ansiolítico, ou antidepressivo não estariam procurando uma solução rápida ao invés de tratar o sintoma investigando as causas que permeiam esse sofrimento?
Entretanto, tempo é um luxo que essa geração parece não ter tempo, especialmente para as coisas mais importantes da vida. Desta forma, prosseguimos imersos nesse imediatismo, ora nessa alienação de si, ora inflacionando os afetos e por conseguinte recorrendo aos medicamentos como forma de desligar um sofrimento.
Isso serve bem aos interesses capitalistas das drogarias. Por outro lado, capital não é uma pessoa ou um ente, é antes tudo aquilo que atribuímos valor, e no espectro da teoria social do capital evoluímos atualmente para pensar que temos diversos tipos de capitalismos, mas imaginemos isso por meio da metáfora de um monstro com vários tentáculos, essa fera seria o capital, sendo esses tentáculos os vários tipos de capitalismos responsáveis por nutri a fera a partir dos nossos desejos para os quais atribuímos valor.
Assim temos o capitalismo da fé, tão antigo que esteve presente no comércio instalado em frente ao templo em Jerusalém nos dias de Jesus. Capitalismo de dados, considerando que as informações sobre os indivíduos de uma sociedade é uma ferramenta
valiosa. Capitalismo da tecnologia, em alta ultimamente com a ascensão da inteligência artificial, IA, e ultimamente o capitalismo do sofrimento, a obtenção de um lucro a partir do sofrimento do outro que por sua vez cria uma relação de dependência com o analista.
Embora seja fato, que um ser humano pode lucrar com o infortúnio do outro, recentemente tenho lançado o olhar como pesquisador de forma especifica sobre dois pontos que considero importantes nesse contexto, o uso de medicamentos de maneira inconsequente como forma de desligar um sofrimento ao invés de tratar considerando aquilo que causa. Para além disso, ao ouvir ultimamente algumas narrativas de pessoas que dizem estar já há três anos em um atendimento sequenciado que parece não ter fim, culminando por criar uma relação de dependência entre paciente e analista, estive me perguntando, será que de alguma forma esse sofrimento não estaria sendo capitalizado?
Assim, algumas perguntas sobre esses fenômenos são necessárias, a quem interessa esse excesso de medicalização que tem ocorrido, especialmente nos últimos anos? a hipótese é que isso tem servido bem aos interesses da indústria farmacêutica, e na esteira desse processo as redes de farmácias que a cada dia se multiplicam, certamente lucrando a partir do sofrimento humano.
Por outro lado, na literatura psicanalítica, o tripé de um atendimento deveria ser composto de recordar, repetir e elaborar, mas se um paciente apenas recorda e repete, e não elabora, que exercício da psicologia é esse que não promove a autonomia dos sujeitos por meio do desvencilhar dessa relação de dependência? Esses são questionamentos inconvenientes, porém necessários, se consideramos que em qualquer contexto do tratamento da saúde mental, é imprescindível propiciar, autonomia e assegurar a liberdade para que as pessoas possam fazer suas escolhas.
Finalmente, é possível afirmar que essa cultura da medicalização como forma de deligar um sofrimento, pode ao invés disso agravar o sofrimento se o sujeito já tiver perdido a liberdade para escolher, e para além disso a médio ou longo prazo determinado medicamentos podem provocar demência conforme já foi comprovado cientificamente.
Finalmente, inferimos que, aqueles/as que se tornam dependentes de um profissional em psicologia, ou psiquiatria para equacionar suas demandas, e por essa razão o tratamento parece não ter fim, consideremos a possibilidade de que ambos não tenham perdido apenas o poder de decisão, mas precisem de atendimento para lidar com questões mal resolvidas.
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