O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Juliano Canavarros, destacou em entrevista ao Poder360 que a obesidade, por si só, nem sempre é a causa direta das mortes relacionadas a essa condição. Ele explicou que os óbitos frequentemente estão ligados a problemas de saúde que costumam acompanhar a obesidade, como pressão alta e alterações nos níveis de colesterol.
Canavarros ressaltou que a obesidade pode desencadear diversas doenças que elevam o risco de morte. “Há evidências científicas de que pessoas obesas têm 30% mais chances de desenvolver câncer, o que pode reduzir significativamente sua expectativa de vida”, afirmou.
Desde 2013, a Associação Médica Americana (AMA) reconhece a obesidade como uma doença crônica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como obesos aqueles com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30 kg/m². No Brasil, os números relacionados à obesidade são alarmantes. Entre 2006 e 2023, o percentual de adultos obesos no país aumentou 105,9%, segundo dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Em 2023, quase um quarto da população adulta brasileira (24,3%) foi classificada como obesa.
Andrea Levy, psicóloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, apontou que o crescimento da obesidade no país está diretamente relacionado a questões como falta de atividade física, desigualdades sociais, problemas de segurança e a carência de políticas públicas eficazes para prevenir e tratar a doença. “Não adianta simplesmente dizer para uma pessoa em situação de vulnerabilidade, que mora na periferia, para ir caminhar no parque ou comprar alimentos saudáveis. Comida saudável é cara, e muitas vezes essas pessoas não têm tempo para cozinhar, pois precisam trabalhar em vários empregos”, explicou.
As projeções para o futuro não são animadoras. Um estudo realizado pela Fiocruz, USP e outras instituições estima que, até 2030, 30% dos brasileiros com mais de 17 anos serão obesos, com um crescimento médio de 3,35% ao ano.
A cirurgia bariátrica é uma das alternativas para o tratamento da obesidade, mas sua acessibilidade ainda é limitada. Nos últimos cinco anos, 89,25% desses procedimentos foram realizados na rede privada, enquanto apenas 10,75% foram feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Canavarros criticou a falta de apoio do sistema público de saúde para atender a demanda. “Falta um pouco mais de empenho para ajudar esses pacientes que precisam tanto desse tipo de assistência”, disse.
Em 2024, a rede privada realizou 47.332 cirurgias bariátricas, enquanto o SUS registrou 11.223 procedimentos. O Ministério da Saúde, em nota, afirmou que oferece assistência integral a pessoas com sobrepeso e obesidade por meio da Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas, incluindo orientações nutricionais, promoção de atividades físicas e, quando necessário, tratamentos medicamentosos ou cirúrgicos.
A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com IMC acima de 50 kg/m² ou IMC acima de 40 kg/m² com comorbidades, após dois anos de tratamento clínico sem sucesso. Também são elegíveis pacientes com IMC acima de 35 kg/m² e comorbidades como diabetes, hipertensão de difícil controle, apneia do sono ou doenças articulares degenerativas, desde que tenham seguido protocolos clínicos por pelo menos dois anos.
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