Nesta quinta-feira, dois jovens foram publicamente punidos após serem considerados culpados de manter um relacionamento homossexual por um tribunal islâmico em Aceh, região conservadora da Indonésia, país de maioria muçulmana. Na província, onde a sharia, a lei islâmica, prevalece, punições severas como essa são comuns.
A sharia, um conjunto de normas derivadas do Alcorão, dos ensinamentos do profeta Maomé e das interpretações dos estudiosos islâmicos, regula diversos aspectos da vida, incluindo questões religiosas, morais, criminais e familiares. Sua aplicação, no entanto, varia conforme o país e a corrente de pensamento islâmico seguida. No que diz respeito à homossexualidade, as versões tradicionais da sharia costumam condenar relações entre pessoas do mesmo sexo, baseando-se em passagens do Alcorão e nos hadiths, relatos sobre a vida e ensinamentos do profeta.
Dependendo do lugar, a pena para práticas homossexuais pode ser extrema, como nos casos de pena de morte ou longas penas de prisão, observados em países como Irã e Arábia Saudita. Já em lugares como a Indonésia, a punição pode se traduzir em prisão, multas ou até castigos físicos, como o ocorrido com os dois estudantes nesta semana.
Apesar da condenação tradicional das relações homossexuais pela sharia, há discussões dentro da comunidade muçulmana sobre a possibilidade de uma abordagem mais inclusiva. Alguns estudiosos e muçulmanos progressistas defendem uma releitura dos ensinamentos islâmicos, enfatizando a importância de valores como respeito à privacidade e liberdade individual, o que poderia afastar punições tão severas.
Os dois estudantes punidos em Aceh foram açoitados em público na quinta-feira (27) após serem considerados culpados por um tribunal islâmico por manterem um relacionamento homossexual. A punição ocorreu em um parque de Banda Aceh, onde os homens receberam 82 e 77 chicotadas, respectivamente, sendo que suas penas foram atenuadas em três chicotadas devido ao tempo que já haviam passado presos.
A execução da sentença foi presenciada por uma multidão, e logo foi alvo de críticas por organizações de direitos humanos, que apontaram um crescente padrão de discriminação contra a comunidade LGBTQ+ na região. “A perseguição, o preconceito e os abusos contra pessoas LGBTQ em Aceh não têm fim”, afirmou Andreas Harsono, pesquisador da Human Rights Watch, em entrevista à AFP.
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